A escola pública, em sua missão ideal de instrução e formação cidadã, muitas vezes se revela uma instituição marcada pela mentira e pela hipocrisia, sobretudo quando se entrega à prática de promover alunos às séries seguintes sem que tenham atingido os pré-requisitos mínimos para tal.
Esse processo – largamente difundido tanto nas escolas públicas de ensino fundamental como nas escolas de ensino médio – gera o fenômeno dos “analfabetos diplomados”, estudantes que, embora tenham completado a educação básica, carecem de habilidades fundamentais para poderem ingressar no mercado de trabalho em condições de digna paridade com os estudantes que concluem a educação básica nas escolas particulares.
Na seara científica, muitas vozes referem-se ao fenômeno dos analfabetos diplomados com outro nome: analfabetismo funcional. Do ponto de vista político, o conceito de analfabetismo funcional refere-se à capacidade limitada de um indivíduo em compreender, interpretar, discernir e utilizar informações básicas em contextos cotidianos, mesmo tendo passado pelos “rigores escolares”.
Do ponto de vista técnico, o analfabeto funcional é aquele que, mesmo possuindo habilidades básicas de leitura, escrita e cálculo, não consegue aplicar esses conhecimentos de maneira efetiva para realizar atividades consideradas simples para o mercado de trabalho, como interpretar textos, resolver problemas matemáticos de nível mais básico ou compreender instruções consideradas simples. Geralmente é um indivíduo excluído digitalmente ou sem literacia digital. Neste caso, o jovem analfabeto funcional assume uma função de subserviência em relação ao jovem de classes mais altas no mercado de trabalho.
Essa situação é fruto de uma atuação extremamente nefasta por parte da escola pública. Quando o estudante deixa a educação básica em situação absolutamente precária, a instituição escolar passa a ser um sistema corrupto, mentiroso e hipócrita por privar este estudante de uma aprendizagem real, favorecendo um sistema adulterado que promove uma “cultura da aprovação”, na qual a passagem de ano encontra explicação muito mais em questões politiqueiras relacionadas a hierarquias presentes na estrutura organizacional das secretarias de educação do que no domínio de competências essenciais por parte dos estudantes.
A escola, ao perpetuar a formação de “analfabetos diplomados”, contribui de forma dolosa com um sistema educacional elitista, corrupto e desrespeitoso, negligenciando seu verdadeiro compromisso com a educação e a transformação social. Ao promover alunos que não dominam o conteúdo necessário, o sistema valida uma estrutura desigual, na qual o diploma serve mais como símbolo de inclusão aparente do que como garantia de aprendizado real. A escola, então, deixa de ser um espaço de crescimento e se torna cúmplice de um ciclo vicioso de exclusão disfarçada.