O conceito de “banalidade do mal”, criado pela filósofa política Hannah Arendt, surgiu a partir de sua análise sobre o julgamento de Adolf Eichmann, um dos responsáveis pela logística do Holocausto nazista. Arendt cobriu o julgamento em Jerusalém para a revista The New Yorker em 1961 e, em suas observações, concluiu que Eichmann, longe de ser um monstro ou um fanático, era uma pessoa comum que cumpria ordens burocráticas sem questionar as consequências morais de suas ações.
Arendt percebeu que Eichmann não parecia agir por ódio profundo ou ideologia violenta, mas sim por uma obediência cega à autoridade e por uma incapacidade de refletir criticamente sobre o impacto de suas ações. Ele se via como um simples executor de ordens, indiferente ao sofrimento humano que causava. Assim, a “banalidade do mal” descreve como atrocidades terríveis podem ser cometidas não necessariamente por indivíduos perversos, mas por pessoas comuns que aceitam normas e ordens sem questionamento ético, transformando a maldade em algo burocrático e rotineiro.
Esse conceito desafia a ideia de que o mal é sempre fruto de indivíduos excepcionalmente cruéis. Ao contrário, Arendt propõe que o mal pode ser “banal” quando decorre da conformidade e da falta de pensamento crítico, o que torna ainda mais perigoso o modo como sistemas autoritários podem manipular pessoas a cometerem crimes impensáveis.
Quem foi Hanna Arendt?
Hannah Arendt (1906-1975) foi uma das mais importantes filósofas e teóricas políticas do século XX. Nascida em Linden, no então Império Alemão, Arendt teve uma vida marcada por profundas reflexões sobre a natureza do poder, do totalitarismo, da autoridade e da moralidade. Sua obra é amplamente reconhecida por sua análise crítica do nazismo, do comunismo e da condição humana em sociedades modernas.
Arendt estudou filosofia na Alemanha com mestres como Martin Heidegger e Karl Jaspers. No entanto, devido à sua origem judaica, ela foi forçada a deixar o país em 1933, após a ascensão de Adolf Hitler ao poder. Ela se exilou na França e, posteriormente, nos Estados Unidos, onde se naturalizou cidadã americana.
Entre seus trabalhos mais influentes estão “As Origens do Totalitarismo” (1951), uma análise do surgimento do totalitarismo no século XX, com foco no nazismo e no stalinismo, e “A Condição Humana” (1958), que discute a vida política e a alienação moderna. Outro de seus textos mais conhecidos é “Eichmann em Jerusalém” (1963), no qual introduziu o conceito de “banalidade do mal”, ao relatar o julgamento de Adolf Eichmann, um dos responsáveis pela organização do Holocausto.
Embora Hannah Arendt tenha abordado temas como poder, política, ética e responsabilidade, sua obra nunca se limitou à filosofia tradicional. Seu pensamento é interdisciplinar, englobando história, sociologia, ciência política e filosofia. Ela foi uma crítica feroz de ideologias totalitárias e suas implicações para a liberdade e a dignidade humanas, deixando um legado intelectual que continua a influenciar debates contemporâneos sobre política e direitos humanos.
O texto traz uma reflexão sobre como a violência está dentro da nossa sociedade,começando desde cedo, onde crianças são expostas a cenas violentas em notícias,desenhos e jogos. O que normaliza essa agressividade.